A CERIMÓNIA
Como sempre, uma cerimónia certinha. Tudo nos devidos lugares, todos bem ensaiados e programados. O espectáculo está ensaiado para os que estão lá e para os milhões que vêem na televisão. Este ano com algumas inovações, para dar um pouco mais de ritmo e "encurtar" alguns minutos à "maratona". Tendo só em conta o espectáculo televisivo, as alterações introduziram uma melhoria. É claro que se podem levantar algumas questões "éticas" (será que posso utilizar este termo?), e perceber que a Academia faz uma "hierarquização" dos nomeados:
- os nomeados das categorias "menos importantes" não vão ao palco. Os "apresentadores" da categoria vão para a plateia, onde os nomeados foram colocados estrategicamente para que a realização possa fazer o seu trabalho, dizem os nomeados, anunciam o vencedor e, mesmo ali, no meio da plateia, onde foi instalado um microfone para os discursos de agradecimento, o Oscar é entregue. Ganha-se tempo, alguma dinâmica, mas os nomeados não têm direito ao palco e a estar em frente a todos os seus pares.
- os nomeados das categorias "mais ou menos importantes" vão ao palco, mas não têm direito a serem seguidos pelo operador de câmara no seu percurso até ao palco. Quando a lista dos nomeados é dita, eles estão todos perfilados no palco, ali, lado a lado, de frente para toda a plateia, enquanto os seus nomes e obras são anunciados. Depois, só o vencedor vai ao centro do palco para receber a estatueta. Mais uma vez ganha-se algum tempo, a realização pode fazer aquele "truque" de mostrar excertos dos trabalhos nomeados no chão, o que é mais uma inovação na cerimónia, mas os candidatos são colocados numa posição muito incomoda. Estão ali à espera da "terrível" notícia. De pé, com toda a sala a olhar para eles, e com uma câmara apontada à cara, que vai "deslizando" sobre eles, na cadência do anúncio dos seus nomes.
- os nomeados das categorias "importantes" têm o mesmo tratamento de sempre. Esperam, calmamente e junto aos seus acompanhantes, o enunciar da lista de nomeados e o anúncio do vencedor. Depois, é ir até ao palco, parando para cumprimentar os amigos que estão na plateia e fazer o seu discurso de agradecimento. The usual!
Televisivamente, resulta muito bem! Para quem lá estava, já não tenho tanta certeza. A movimentação de técnicos, dos nomeados e do próprio "apresentador", que isto implica deve perturbar um pouco quem está a assistir ao espectáculo. E, imagino eu, que a entrega do Oscar nas categorias "menos importantes" não tenha sido vista, nas melhores condições, por toda a sala.
Outra "inovação" - coloco entre aspas porque eles vão fazendo esta brincadeira, de vez em quando, mas acho que este ano foi o primeiro em que fizeram quase o pleno - foi terem artistas contratados para interpretarem as canções nomeadas ao Oscar. Tirando os Counting Crows, que interpretaram a sua própria música, as outras interpretações tiveram a cargo da Beyoncé Knowles, e da dupla criada por eles, Carlos Santana e Antonio Banderas a quem "deram" a interpretação da música do Diarios de motocicleta - "Al Otro Lado Del Río".
Não me parece bem! Devem ser sempre os artistas originais a interpretar as canções nomeadas. Não faz sentido de outra forma!
OS "DESLIZES"
Não vou falar dos habituais - enganos vários a ler o teleponto, malta que quer saír do palco pelo lado errado - porque esses também já fazem parte do espectáculo!
Os dois deslizes que mais gostei foram:
1º - O Jeremy Irons a tentar manter a calma e continuar a falar do prémio que ia apresentar, enquanto algo de errado se passava mesmo em frente dele. Na transmissão ouviu-se um estrondo, como se alguém tivesse caído, e depois ele disse - I hope they missed! Aquilo é que foi manter a calma! Não foi nada de especial, mas numa cerimónia daquelas são coisas que não acontecem. Gostava tanto de saber o que se passou realmente!
2º - o nomeado - das tais categorias "menos importantes" - que estava calmamente a dormir na sua cadeira, enquanto diziam o seu nome. Levou uma cotovelada da companheira, quando ela se apercebeu que ele estava a dormir, e lá acordou. Será que tinha tido uma festa de arromba na noite anterior, ou aquilo estava ser uma grande seca para ele? Quando acordou disfarçou o melhor que pode, mas a imagem dele a dormir já tinha sido transmitida para todo o mundo.
OS VENCEDORES
Tal como tinha dito num post, uns dias antes da cerimónia, este ano não vi quase nenhum filme dos nomeados, mas como estes prémios são prémios da indústria, para a indústria, e têm tanto de politico, como de recompensa verdadeira pelo mérito e qualidade dos trabalhos, normalmente é fácil encontrar uma lógica para perceber quem vão ser os vencedores.Mas, para que a branca não fosse total, fui ver nessa noite, o Million Dollar Baby. Saí da sala a achar que este era o ano do Clint Eastwood.
O FILME É MUITO BOM!
MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
Esta era uma das categorias onde eu tive mais dificuldade em encontrar "a minha vencedora". Apesar de ter visto poucos filmes, nesta categoria vi dois; o Closer e o Kinsey e o trabalho das actrizes nomeadas é muito bom. A personagem da Sophie Okonedo no Hotel Rwanda, dá azo a um grande desempenho. Uma personagem que atravessa um período, como o contado no filme, é um "personagem de Oscar". Tem momentos de desespero, de medo, de separação, de pânico. De grandes emoções, e a Academia costuma gostar destes papeis.
Sobram as outras duas: Virginia Madsen e Cate Blanchett. Com a primeira não tinha por onde ir. Não vi nada do filme e não sei que tipo de personagem é. Da segunda sabia o mais importante - ela é uma actriz extraordinária e estava a fazer de Katharine Hepburn - estas eram as razões que mais pesavam para ela ser a vencedora. A industria gosta dos seus, e esta era mais uma maneira de o demonstrar.
MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
A meu ver havia três hipóteses; Alan Alda, Morgan Freeman e Jamie Foxx (os outros são uns "desconhecidos" para a Academia); ou ganhava o Jamie Foxx (e não ganhava o de melhor actor) ou ganhava um dos "velhos".
O Foxx não seria porque lhe iam dar o de melhor actor, e o Alda não é um "grande actor" e como tinha acabado de ver o Morgan Freeman a fazer uma grande interpretação, essa era a minha aposta.
MELHOR ACTOR
Jamie Foxx. Tinha que ser.
Pelas mesmas razões da Sophie Okonedo, também poderia ser o Don Cheadle, mas o Jamie Foxx, não só deu vida a uma lenda (que morreu recentemente e que foi um marco na música) como interpretava um cego - eu sei que isto não é uma afirmação politicamente correcta, mas a Academia gosta de premiar quem interpreta pessoas com deficiências, os anos anteriores têm - no demonstrado - e isso é um papel para Oscar.
O Clint é MUITO BOM como realizador, mas como actor ... já não o acho tão bom (embora o papel seja bom e ele vá muito bem)
O Johnny Depp é muito bom, mas não seria com este papel que o Oscar lhe ia parar à mão. Foi pena no ano passado ter uma concorrência tão forte, porque aí sim, era merecido.
Finalmente o menino bonito. Não vi o filme, não sei como é o desempenho dele mas, o Leonardo DiCaprio não é Oscar material!
MELHOR ACTRIZ
Mais uma vez a corrida estava entre as "velhas" e o papel físico (não só, não só mesmo, mas também)
Ou premiavam o trabalho de uma carreira longa e davam o Oscar à Annette Bening ou à Imelda Staunton , ou premiavam a Hilary Swank, que não só faz um papelão no que diz respeito às emoções da personagem, como teve que transformar o corpo, e ter um desempenho muito fisico. E, mais uma vez, essas duas coisas combinadas, fazem um papel para Oscar.
A Kate Winslet surpreende no Eternal Sunshine of the Spotless Mind e merecia ser premiada por isso, mas a concorrência era muito forte. Talvez num ano mais fraco o Oscar fosse dela.
Catalina Sandino Moreno, a novata, estrangeira, que faz um papel falado em espanhol, desconhecida ... era quase impossível!
MELHOR REALIZADOR
Apesar do talento reconhecido dos outros nomeados, com bons filmes no curriculum, a luta era entre o Clint Eastwood e Martin Scorsese
Não sei porquê mas o Scorsese não é bem querido pela Academia. Há anos que ele merece um Oscar, e este ano não deveria ser excepção, mas a coisa não está mesmo virada para o lado dele.
Ainda pensei que lhe dessem o Oscar como uma espécie de "prémio carreira", mas sempre achei difícil. E depois de ver o Million Dollar Baby, com a minha "visão toldada" pela qualidade do filme, ainda mais difícil me pareceu que o Oscar lhe fosse entregue.
MELHOR FILME
Normalmente as nomeações são coincidentes e quem ganha um ganha o outro, e foi o que aconteceu.
No final achei os prémios justos.
Mesmo sem ter visto todos os filmes, e por isso tendo os "meus dados incompletos", achei que os Oscars das "principais" categorias foram bem entregues. Tendo em conta que estes prémios estão sempre "viciados" por questões que já mencionei antes, e que não é só a qualidade que é tida em conta, eu fiquei contente. Este ano os premiados "encaixavam-se" nas politicas da Academia, mas também eram, de facto, muito bons.
Não vi o Aviador, e, do que conheço do talento do Martin Scorsese, acredito que o filme também merecesse o Oscar. Deve ser um filme Grandioso! Mas o Million Dollar Baby é muito bom!
Tem uma coisa que, para mim, é o que faz um filme genial - a história - mais do que a técnica, os efeitos especiais, os cenários, o guarda-roupa, uma boa história é meio caminho para um bom filme. (talvez seja isso que tem faltado ao Scorsese, são as histórias realmente boas) Se a isso juntarmos personagens bem caracterizadas (no sentido em que têm "conteúdo dramático"; são contraditórias, densas, boas e más, em dúvida, com questões que não conseguem resolver, com um passado, com uma história, com uma vida que o espectador consegue "ver" para além do momento que lhe é mostrado), com bons actores a representá-las temos filmes geniais! E o Million Dollar Baby veio confirmar-me esta teoria.
Desculpem lá o texto loooongo, mas análise é análise!
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