segunda-feira, setembro 22, 2003

... Dia Europeu sem Carros ...

Aqui está algo me origina sentimentos muito contraditórios ...

A primeira edição ... em 2000 ... foi uma aventura, uma alegria!!!
Era uma Sexta-Feira ... o que originou uma flexibilidade de horários maior
Quase toda a cidade estava fechada ao trânsito ...
Os transportes públicos eram muitos ...
Havia festa em todas as ruas ...
Pessoas de patins, de bicicleta, de cavalo, de todo o tipo de transportes sem motor ...
O António foi para o trabalho de bicicleta !!!!!...
Eu, que tinha um horário muito flexivel, fui calmamente de transportes públicos, e tirei a tarde para passar e ver os resultados do Dia Europeu Sem Carros ...
FOI UMA FESTA !!!

As outras edições, que foram ao fim-de-semana, nem dei por elas ...
Mas penso que, mesmo que tivesse que me deslocar, iria participar sem qualquer problema, pois tinha todo o tempo para poder andar a pé e de transportes públicos.

A edição deste ano fez-me parar para pensar!
Será que estas acções valem de alguma coisa? Vou dar o meu exemplo ...
Para vir para o trabalho de transportes públicos, iria, seguramente, chegar muito atrasada, ou teria que sair de casa muito mais cedo do que é costume.
O dia começaria com uma caminhada de 1000/1100 metros para chegar ao eléctrico - poderia ir até ao electrico de autocarro, mas isso implicaria uma espera, que poderia ser maior do que fazer o percurso a pé, ou, no caso de ser um hábito diário, comprar um passe que inclui-se esse quilómetro, que, como já faz parte de um outro concelho, me custaria mais 5 ou 6 euros por mês (parece-me um quilómetro bastante caro!!!) - quando chegasse á paragem do eléctrico teria que - a não ser que tivesse muita sorte - esperar longos minutos, antes que o eléctrico chegasse. Depois chegaria ao Cais-do-Sodré e tinha duas hipoteses: ou apanhava o metro até Cabo Ruivo, ou um autocarro até à zona Sul da Expo. Depois disto, em qualquer das hipoteses escolhidas, teria que voltar a andar mais um tanto - sendo que aqui não tinha outra hipotese senão andar (não há um único transporte que fique a menos de "uma boa caminhada" do sitio onde trabalho) - para finalmente chegar ao trabalho.
Claro que no final do dia teria que fazer tudo de novo para chegar a casa ...
Resultado: !!!!trouxe o carro para o trabalho!!!!

Eu sei que há milhares de pessoas que fazem percursos destes, e por vezes piores, todos os dias. Eu tenho muitos colegas que moram mais longe que eu e não vêm trabalhar de carro. Mas, para quem se habitua a andar de carrinho, passar a andar de transportes é muito dificil.
Para quem vai no seu carrinho, a ouvir a sua músiquinha, tem a sorte de poder estacionar à porta e não tem que estar uma (ou até mais) hora no "pára arranca" do trânsito, este cenário de esperas, vários transportes e vários metros a andar a pé, não é nada apelativo ... (e quando se acrescenta o factor tempo - chuva, frio, vento, muito calor, etc. - a coisa ainda fica pior)
mesmo com a consciência que é uma estupidez vir, sozinha, no carro, a poluir, a gastar recursos, a encher a cidade, etc ...

Eu gostava de participar nestas iniciativas - aliás, gostava de deixar o carro à porta de casa e só o utilizar para viagens que implicassem mais de 50 km - mas a nossa rede de transportes públicos não ajuda a que, os condutores comodistas, como eu, pensem em largar o carro e vir de transportes para a cidade.


Lisboa deveria ser como New York ...
No centro da cidade está uma estação de comboios, aonde chegam dezenas (acho que, até mesmo centenas) de comboios, vindos de todas as zonas (cidades, vilas, não sei) periféricas), e que está ligada a uma rede de metro, que chega a todos os pontos da cidade.
Mas, para quem não gosta de metro, à superficie há centenas de autocarros e milhares de táxis - a um preço baixissimo (para o nivel de vida deles)- para nos podermos deslocar para todo o lado.

Estas iniciativas são sempre importantes, porque nos obrigam a pensar, a tentar arranjar soluções, mas não podem ser o principal, não podem ser a INCIATIVA, a solução. Não podemos tentar convencer os condutores a largar o conforto do seu carrinho, quando não temos nada em alternativa para apresentar. A alternativa não pode ser uma espera de 15 minutos - e estou a ser simpática, porque na altura em que andava de autocarro, fiquei muitas vezes 45 minutos/1 hora à espera de um transporte, para depois virem aos pares - por cada transporte que apanhamos, vários transportes para chegar ao destino, autocarros, eléctricos, metro e comboios, cheios, a abarrotar, onde nem se consegue respirar, e o mesmo tempo, que gastaríamos de carro, passado em filas ... assim, não conseguem convencer o mais preocupado dos condutores ...

eu gostava de não trazer o carro para a cidade, mas, face ao que me é oferecido pela nossa rede de transportes públicos, o conforto e autonomia que o meu carro me oferece, ainda fala mais alto do que a minha consciência civica.

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